24 setembro 2016

A propósito do esfaqueamento na Josina Machel [6]

Quinto número aqui. Passo ao quinto ponto do sumário proposto aqui, a saber: 5.Análise internacional. A extrema agressividade do jovem da Escola Secundária Josina Machel [recorde aqui] faz parte de um conjunto de círculos sociais concêntricos. Um desses círculos tem características internacionais. Por outras palavras: o jovem é, ao mesmo tempo, ele, a zona, a nação e a humanidade.
Hoje, em segundos, do celular à televisão passando pelo computador, sabemos o que se passa no mundo dos riscos crescentes de todos os tipos, da violência, da precariedade e da exclusão sociais, dos atentados a trouxe-mouxe, das guerras a esmo, das carnificinas em cafés e escolas, da morte banalizada, dos medos que se espalham como que liquidamente, dos símbolos trágicos das rixas e das batalhas.
O modesto estudante que agrediu um colega com uma faca na Josina Machel não é estrangeiro a esse mundo, ele - como qualquer um de nós, por mais paroquiais que sejamos - é-lhe parte integrante, esteja ou não consciente disso.
Esse mundo de risco variado não consiste apenas de informação, mas também de formação, de modelo, de proposta. Na verdade, mundo que ao mesmo tempo informa, forma, molda, comanda e formata.
A faca do jovem era, afinal, uma faca mundial, uma bandeira da extensa modernidade problemática que vivemos.

3 comentários:

Unknown disse...

A propósito do esfaqueado na josina
" de tudo que o rio arrasta se diz que é violento, mas ninguém diz violento as margens que o oprimem " anónimo.
Então, todos em corro gritam " estamos chocados" ! A atitude destes jovens é feia, nos envergonha, eu! não estou chocado, nem envergonhado . Choca-me a atitude das autoridades, envergonha-me as medidas tomadas, simplesmente atacaram, condenaram as consequências do problema, mas ninguém está preocupado com as causas, a raiz do problema.
Senhores! O adolescente de hoje, o jovem de hoje, é o jovem do smartphone, é o jovem do Google, é o jovem do YouTube, da Internet, do Facebook, Whatsap, Twitter, instagram, e tantas outras plataformas, afinal! " quem não tem smartphone"? Todos querem atenção, todos sentem-se no centro do mundo quando lhes dão atenção, e rejubilam por mais, mas ninguém nunca questionou, a que custo se consegue atenção? As imagens da arte do EDONISMO, os vídeo clips, a exibição, vendem mais e melhor que a Bíblia, os bons hábitos, pois é isso que passa na televisão, na rádio e nem se fala no Whatsap, isso não é violento? Qual o jovem ou a jovem em sã consciência que não é ambicioso?, ou ao menos não se preocupa com a aparência? Casamos por dinheiro! Relacionamo-nos por interesses! Porque todos queremos " bater" quem não " bate" está condenado ao isolamento, ao buling, e a chacota, e porque quero ser igual aos outros entro na onda. Me respondam rápido, quem não conhece, canta, e venera a música
"Rende bem mesmo" Não é isto violento? Quem não quer bater? Honestamente!
Senhores, os adolescentes, os jovens estão em rota de colisão a velocidade de cruzeiro, padecemos de um câncer maligno e é sistémico, precisamos combater, mas como podemos aproveitar o impacto desta colisão? Não sei, mas de uma coisa tenho certeza, não é o rio que é violento, mas as margens que o oprimem o são!

Manuel Lobo disse...

Vejo (e via) este caso de uma forma simplista. Mas depois de ler outras opiniões sou tentado a ser mais cauteloso. Não quero nem defender a alguém que usou a faca para atacar a uma pessoa inocente, nem ser o defensor de alguém que se defendeu de alguma turba de gente agressiva representada pelo jovem atacado. Creio que a realidade parece ser complexa, dai que não gostaria de entrar em condenações antes de ver as averiguações, porque há quem diga que na JM existem gangs de jovens que agridem e assaltam os colegas, intimidam-nos, impedem aulas, fazem bullying aos "amigos", enfim. E pode se dar o caso de o agressor simplesmente ter-se procurado defender deste tipo de comportamentos (numa sociedade onde ninguém liga para os problemas de ninguém). A ver pelo que acontece junto à JM onde se diz que existem jovens que consomem (compram) bebidas alcoólicas (e quem sabe, outras coisas proibidas) nas barracas que sabem que são proibidas de vender álcool a menores. Alguém faz alguma coisa para o evitar? Onde está a aplicação da lei? E porque ela não é aplicada? Se ela não é aplicada aqui que será do Zimpeto e outras zonas? Por isso, gostaria de esperar pelas averiguações, que tenho quase a certeza que não vão acontecer, porque o veredicto popular já está dado e o jovem "agressor" é culpado. Acho que o que vimos foi apenas a pontinha do iceberg!

Carlos Serra disse...

Tal como escrevi na parte final da conclusão da série que amanhã vai aqui surgir, o fenómeno pode ser bem mais complexo. E vai muito para além da criminalização deste ou daquele jovem.