25 dezembro 2015

Précapitalismo e capitalismo

O précapitalismo era, digamos, indecomponível no seu tempo cíclico, sendo este intimamente fecundado e limitado pelo espaço familiar, pela solidariedade social e pela ética sagrada de um social que recusava o indivíduo enquanto - na acepção de Louis Dumont - ser moral, independente e autónomo.
O modo capitalista de produção, pelo contrário, distende o tempo, fragmenta-o, divide-o, lança-o para frente com o relógio mecânico, subverte o território familiar diariamente revisto, multiplica o espaço da produção, quebra as solidariedades tradicionais, subverte e dessacraliza as velhas ordens patriarcais e os velhos mitos, dando origem ao indivíduo, essa figura histórica que vive e trabalha com uma outra que não conhece ou que produz para uma outra que não conhece.
A subversão do velho social cria uma “desordem” que é fruto da colisão entre a lógica do Capital e a lógica da solidariedade.
O Capital produz indivíduos para a frente - ele é futuro, incerteza, selecção, anarquia; mas os indivíduos guardam, ainda, afinal, tenaz, a memória e o apelo da sociedade solidária - eles ainda são passado, certeza, um certo tipo de ordem e de ontologia campesinas.

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