28 setembro 2011

O messianismo no futebol moçambicano

A imprensa noticiou que a Federação Moçambicana de Futebol rescindiu o contrato com  o seleccionador nacional, o holandês  Martinus Ignatius Maria. No próximo mês deveremos conhecer o novo selecionador.
O nosso futebol tem vivido intensamente do destino atribuído aos seleccionadores: o de serem messias, o de serem, por si próprios, absolutamente capazes de construir uma nova nação, a nação das vitórias da selecção nacional.
Assim, sem que verdadeiramente, ao longo de muitos anos, tenhamos obrado algo de genuinamente grande e sistemático a nível internacional, em movimento já temos a nossa fé de que tudo vai mudar com o novo seleccionador, de que uma real parusía futebolística vai acontecer.
Não seria bem mais eficiente, bem mais sensato, antes de nomearmos um novo seleccionador, efectuarmos um estudo em profundidade, multilateral, com relatório publicamente dado a conhecer, sobre os problemas que têm afectado o nosso futebol desde a independência nacional? Tenho para mim que o país tem gente competente, capaz de elaborar esse estudo.

4 comentários:

nachingweya disse...

O país tem gente competente não só para produzir o proposto e necessário estudo; o país tem gente competente para fazer emergir não um, mas vários treinadores com nível para seleccionador nacional a altura dos desafios actuais.
E só não os temos porque, infelizmente, com as nossas políticas e práticas de gestão social baseadas na exclusão, grande porção de massa critica se desperdiça. Enquanto a competência não for o critério decisivo para a condução dos diversos ramos da sociedade estaremos a alimentar o marasmo na produção de competências.
E não é só no desporto.
Para mim defendo que nas competições entre nações as modalidades deviam-se apresentar com jogadores e treinadores nacionais. Não importa quantos consultores, conselheiros e tutores estrangeiros os paises possam contratar mas a cara do treinador de uma selecção devia ser sempre nacional. Dir-me-ão que 'em todo o mundo....', como já tornou prática argumentar entre nós, mas é que defendo o princípio para todo o mundo, não só para Moçambique.

Salvador Langa disse...

Se calhar o improviso reina a descoberto, se calhar somos muito bons a treinar só quando os jogos se aproximam, se calhar somos perfeitos a querer vender os passes dos nossos melhores jogadores.

V. Dias disse...

Creio que o nosso desempenho a nivel internacional decaiu a partir da decada de 80, especificamente quando a honra e o amor a patria tombaram em Mbuzine em 1986. Nem sempre estivemos mal. É importante que se diga isso.

O mundo de futebol é um mundo misterioso e injusto. Eu como nao sou amante de futebol e para nao lesar as excelsias individualidades e instituicoes que cuidam do desporto rei, aqui me fico sem antes confessar mais um desabafo.

O meu Chingale de Tete, desde que a direccao maxima da EDM transferiu o eng Garrido Jeremias para Inhambane (eu nem sei se ainda anda por la) nunca mais o meu Chingale foi o mesmo.

Havia tambem um treinador muito brilhante à frente da equipa, o senhor Sousa Alexandre, um profissional que levou o Chingale ao podio por diversas vezes. Foi "abatido" profissionalmente.

De la para ca, sobretudo com a saida destes dois, o que se ve é aquilo que se consome: derrotas atras de derrotas. E como se nao bastasse a desorganizacao tomou conta do clube.

Tenho saudades desses tempos.
Zicomo

ricardo disse...

Cada vez mais e notorio para mim que desporto e politica nunca se deveriam misturar. E se o desporto tiver o infortunio de se envolver com maus politicos, naturalmente herdara destes todas suas mas qualidades.
Este introito serve para V. situar que, nos anos 80, o futebol mocambicano, por decisao politica e a pretexto de reestruturacao por maus resultados desportivos, auto-irradiou-se por tres longos anos das competicoes internacionais ao nivel de clubes. Coincidentemente, foram os anos em que o Maxaquene de Rui Cacador limpou tudo que havia por ganhar internamente. Tanto ganhava localmente que os OPINION-MAKERS cataventais, tinham o sobranceirismo de comparar um Ferreira a Beckenbauer. Um Nico a Eusebio. Um Martin Skaba a Ernst Happel e ai por diante. Enfim, o fervor revolucionario guiando-nos num mundo de ilusoes, fazendo-nos acreditar no MITO que tinhamos evoluido tanto, que quando voltamos as competicoes da CAF, calhou logo ao Maxaquene (que vinha de um estagio longo em Portugal onde jogou com equipas amadoras da III Divisao) uma equipa zambiana - Power Dynamos - que nos mostrou o que e jogar futebol em Africa. Alias, vale recordar que em seleccoes nacionais, nunca vencemos nem a Zambia, nem o Zimbabwe, inclusive em nossa casa. Com elas, o empate tem sabido a vitoria. Conclusao: depois de uma reclusao forcada pelos politicos de entao (Samora ainda era vivo) o futebol mocambicano regrediu ainda mais. O Lesotho e a Swazilandia que eram normalmente goleados por nos, transformaram-se em carrascos. E nos, passamos a disputar renhidos DERBYS com as Comores, Seychelles e Madagascar...

Em suma, enquanto o nosso plano desportivo continuar a ser intersectado pelo politico, a situacao do futebol prevalecera. Ou seja, havera muitos mais Messias a darem o ar de sua graca, trazendo-nos de quando em vez alegrias momentaneas, que nos farao esquecer novamente de fazer o trabalho de casa.