27 dezembro 2010

O que é Moçambique, quem são os Moçambicanos? (16)


Mais um pouco desta atrasada série.
Escrevi no número anterior que a ocupação militar sistemática do nosso país começou em 1886 e terminou cerca de 1917. Nela, dois fenómenos foram para mim fundamentais: (1) A resistência foi tão mais demorada quanto mais se caminhava para Norte, tendo sido mais fácil aos invasores vencerem Estados ou Impérios do que formações sociais sem estrutura de comando central; (2) A ocupação esteve especialmente a cargo de cipaios.
Vou desenvolver o primeiro ponto, em meu entender pouco conhecido.
No Norte, a estrutura social atomizada não foi dissolvida pela emergência de alguns poderosos senhorios políticos de cunho territorial, desenvolvidos especialmente a partir de meados do século XVIII com o comércio de escravos. Nessa sociedade, onde a linhagem ou o segmento de linhagem constituíram o eixo geral a partir do qual ela se ordenou, se aliou e, com mais frequência ainda, se dividiu, nessa sociedade típica dos pequenos espaços, geradora de reduzidos excedentes alimentares e, portanto, menos afectada pelas clivagens sociais, a lide guerreira não podia destacar-se da produção. Cada produtor era, em determinadas circunstâncias, perante necessidades específicas, um guerreiro adicional que, após curtas operações, retomava a sua actividade produtiva. A esse tipo de sociedade como que correspondiam idealmente o relevo acidentado e a vegetação cerrada, equipamento defensivo natural e pródigo. Não admira, portanto, que o golpe de mão ao povoado ou a emboscada, a cargo de grupos muito móveis de guerreiros, destinados não a delimitar mandos territoriais sobre populações tributáveis mas a danar ou a expulsar o inimigo, fossem as técnicas mais adequadas à estrutura social e ao meio físico descritos (resposta ao ponto ainda não terminada).
(continua)

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