28 março 2008

Povo moçambicano é pacífico, logo 5 de Fevereiro não foi moçambicano (3) (prossegue)

Prossigo a série com o título em epígrafe, que tem como êmbolo o pacifismo do povo moçambicano defendido a todo o transe por Edson Macuácua, responsável da área da Mobilização e Propaganda do partido Frelimo e que, na condição de porta-voz da bancada parlamentar desse partido, interveio há dias na Assembleia da República, dizendo o que pode ler aqui. Entretanto, o semanário "O País" entrevistou Lourenço do Rosário, reitor da Universidade Politécnica e presidente do Fórum do Mecanismo Africano de Revisão de Pares. Da longa entrevista, extracto o seguinte:
O País: Que leitura faz do que aconteceu no dia 5 de Fevereiro aqui em Maputo e que se foi repercutindo por alguns pontos do país?
Lourenço do Rosário: Vamos separar dois aspectos: um é o aspecto legítimo da indignação, outro é a forma como esta indignação se transforma em violência degenerada. A indignação é legítima (...). Aqui criou-se um mito: houve uma boa gestão da política de reconciliação nacional, não houve vinganças por causa de algumas atrocidades que a guerra nos trouxe. À volta disso, criou-se um mito de que somos um povo pacífico, mas esquecemo-nos de que quando não há organização, quando não há com quem dialogar, facilmente se vai para a violência, não podemos dizer que não há factores para a violência, os sinais estão aí. Então, o 5 de Fevereiro já vinha sendo prenunciado através (...) dos factores de injustiça social..."
Importe e leia a entrevista completa aqui. Obrigado ao Jeremias Langa e à Olívia Massango, jornalistas do "O País", pelo gentileza do envio da peça, a meu pedido.

1 comentário:

chapa100 disse...

professor serra! obrigado por colocar esta entrevista aqui, e sempre um grande prazer ler o professor lourenco de rosario. acho que foi muita pena o entrevistado nao ter aprofundado mais a questao dos servicos de seguranca e as manifestacoes da grande terca. parece-me ser de grande importancia perceber o papel que queremos destacar os servicos de seguranca do estado, parece-me problematico tentar transferir para o servico de seguranca o papel de disuadir a indignacao popular.
o fragil entendimento que temos da responsabilidade politica (dos partidos) sobre politicas publicas e o legado historico de um governo/estado paternalista "mandao" podera ter forcado os varios pronunciamentos infelizes de alguns politicos, o que o professor Lourenco chama de demagogia.