29 janeiro 2007

Os pontífices


Já aqui falei várias vezes sobre o positivismo. E também já aqui me perguntei e vos perguntei de que lado estais.
Volto agora brevemente ao tema.
Um dos grandes atractivos do positivismo consiste justamente em tirar o sexo à análise política. Pomo-nos a caminho com sagazes inspecções técnicas, multiplicamos os apelos ao equilíbrio analítico, procedemos a laboriosos estudos sobre a anatomia dos outros (do que escrevem e descrevem) para depois dizermos, com serenidade nefelibata e pontifícia, que não devemos tomar partido salvo o partido de não opinarmos enquanto não tivermos descoberto o sexo dos anjos.
Não há culpados nem culpadores: apenas há o reino da estética analítica. E esta estética analítica exige que expulsemos os demónios dos julgamentos e dos juízos de valor.
Estamos diante da ciência da opinião pontifícia que encontrou o Santo Graal. A opinião dos outros só tem sentido se avalizada pelos mentores dessa ciência.
Armados com a santíssima trindade, os pontífices fazem ciência tão naturalmente como o Sr. Jourdain fazia prosa: sem o saber. Sem chateação e sem ponto final, para dizer a coisa como o Jorge.

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